segunda-feira, 25 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Amargo?

                        Difícil entender como surge uma companhia. Talvez a Única ainda não tenha surgido, mas o fato é que ela nasceu. O primeiro fruto foi o espetáculo “A Última Valsa”, onde a companhia tinha um apelido de Espantalho de Copas, e que por força do destino acabou antes mesmo de andar. Ela estreou no Festival de 2010 e terminou no Festival de 2010. Elenco dissipado, equipe solta, diretor ficou sozinho, avulso, solitário. Único. Aí apareceu a Companhia Única, que encontrou outras pessoas que se juntaram fizeram jus ao nome companhia.
                        Amargo saiu como um cuspe, como uma tosse, um latido, um espirro, rápido e impulsivo. A palavra veio como que por um súbito presságio e acabou sendo uma estrela guia para a criação de um texto onde a idéia de um casal em separação agradava mais que Pedro Bloch, em seu Inimigos Não Mandam Flores, ou Tenesse Willians em seu Fala Comigo Doce Como a Chuva... financeira e artisticamente falando.
                        Com isso apareceram pessoas malucas que apostaram na idéia e a abraçaram, trazendo discussões intermináveis de Nietzsche, Simone de Beauvoir com seus existencialismos e filosofias úteis para mais e mais discussões sempre intermináveis. E de repente o que era Amargo foi ficando doce e interessante de digerir. Alguns cortes se fizeram necessários para extrair o “creme de la creme” de um texto pesado e com sérios problemas de continuísmo.
                        Os temperos foram jogados na panela: figurino, sonoplastia, cenário, fotos, texto, emoção, dificuldade, apoios, nãos e nãos e mais nãos. Para resultar em um espetáculo que me deixa muito feliz. Não só por ter feito um produto final interessante mas sim por ter feito amizades densas e parcerias intensas com pessoas que completaram uma equipe competente e capaz. E hoje a Companhia Única não tem esse nome por estar sozinha ou avulsa. Mas por ser a única companhia com um grupo de amigos que entre agregados, transeuntes e fixos formam uma família gostosa de conviver. E o que fazer se é o que temos pelos próximos 60 anos?
Obrigado por estarem comigo nessa roubada.

Rodrigo Hayalla
Diretor Artístico

sábado, 5 de março de 2011

Divulguem!

Foto Gisele Winther

AMARGO

   



                        Um casal. Caixas no chão. Objetos separados. Uma lembrança que lateja no pensamento. O tempo que não para. Amargo traz a realidade de duas pessoas que viveram uma única historia para um lugar que não remete a nada, que remete ao nada. Um passado que está no ar, solto como uma poeira e que pode desaparecer num sopro de lucidez unido a um suspiro de insanidade.
                        Se você pudesse esquecer o que você esqueceria? Lembranças que pretendemos nunca mais lembrar são as mais latentes nos nossos pensamentos. Um casal que passa a vida juntos, mas que nunca se conheceram de verdade, entram em uma reflexão profunda sobre o ser humano e sua mediocridade. Falar sinceramente o que sentimos não é uma fácil tarefa quando não sabemos exatamente se o nosso ouvinte irá receber de forma ideal. Ruídos entram no meio da comunicação e distorcem o que falamos.
                        Um universo amargo, difícil de estabelecer uma convivência ideal, se encontra o casal desse espetáculo. Num clima de separação ELE e ELA se encontram para dar um fim a essa relação. Falamos de relações humanos independentemente de amor.
                        Partimos de textos de casais de autores consagrados como Pedro Bloch, Eduardo Pavlovski, Tenesse Williams e contos de Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector e outros para formar a dramaturgia desse espetáculo.  

terça-feira, 1 de março de 2011

GRAVAÇÃO no Denis



Como se fosse coencidencia!

AS CORUJAS - CAIO FERNANDO ABREU


INTRODUÇÃO

Tinham um olhar dentro, de quem olha fixo e sacode a cabeça, acenando como se numa penetração entrassem fundo demais, concordando, refletidas. Olhavam fixo, pupilas perdidas na extensão amarelada das órbitas, e concordavam mudas. A sabedoria humilhante de quem percebe coisas apenas suspeitas pelos outros. Jamais saberíamos das conclusões a que chegavam, mas oblíquos olhávamos em tomo numa desconfiança que só findava com algum gesto ou palavra.
nem sempre oportunos. O fato é que tínhamos medo, ou quem sabe alguma espécie de respeito grande, de quem se vê menor frente a outros seres mais fortes e inexplicáveis. Medo por carência de outra palavra para. melhor definir o sentimento escorregadio na gente, de leve escapando para um canto da consciência de onde, ressabiado, espreitaria. E enveredávamos então pelo caminho do fácil. Recusando-lhes o mistério, recusávamos o nosso próprio medo e as encarávamos rotulando-as sem problema como "irracionais", relegando-as ao mundo bruto a que deviam forçosamente pertencer. O mundo de dentro do qual não podiam atrever-se a desafiar-nos com o conhecimento de algo ignorado por nós. Pois orgulhos, não admitiríamos que vissem ou sentissem além de seus limites. Condicionadas a seus corpos atarracados, de penas cinzentas e três garras quase ridículas na agressividade forçada -condicionadas à sua precariedade, elas não poderiam ter mais do que lhe seria permitido por nós, humanos.

A CHEGADA

Vieram de manhã cedo, a casa adormecida recusando-se preguiçosa a admiti-las em seu cotidiano.
Apenas a empregada levantou-se entre resmungos para abrir a porta. Aceitou-as impassível em sua sonolência, dentro da gaiola em que estavam. O homem que as trouxera exigira apenas um sabonete em troca. Não sei se chegaram, a saber, disso -talvez não, pois quem sabe a troca mesquinha faria oscilar o orgulho delas, amenizando-lhes a ousadia no encarar-nos. Sobre a mesa, uma encolhida contra a outra, massa informe, cinzenta e tímida, onde ainda não se distinguia o grito amarelo dos olhos, aguardaram pacientes que o sol subisse e as gentes acordadas viessem cercá-las de espantos e sustos. Meu pai no entanto não lhes deu atenção. Constatou-as e passou adiante, em direção ao banheiro. Minha mãe sorriu-lhes, tentando a primeira carícia, recusada talvez por inexperiência de afeto. Contudo, não as penetrou fundo, anexando-as inofensivas em seu esparramar de bondade sem precauções.
Foram as crianças as primeiras a hesitar, num recuo que seria de ofensa se pertencesse à gente grande. Crianças trocaram assombros frente à estranheza dos bichos nunca antes vistos. Por terem menos tempo de existência eram talvez as mais vulneráveis ao mistério. O viver constante demorado e desiludido dos outros, acostumados a dureza, não podena por caminhos diretos render-se à solicitação dos olhos delas. Mas a inexperiência das crianças levava-as ao extremo oposto de desrespeitá-las em sua individualidade, trazendo-as sem cerimônias para seu mundo de brinquedos. Perguntaram o nome dos bichos à empregada atarefada em passar café.

Coruja- foi a resposta seca, desinteressada, como se se tratassem de um saco de açúcar.
Aparentemente satisfeitas, compenetraramtse em cercá-las de uma ternura meio brusca. Aquela mesma dispensada às bonecas novas, que em pouco tempo restavam espatifadas em braços e pernas pelo quintal. Essa ternura bruta que destrói por excesso inábil de amor. Restou-me o consolo de ter sido o primeiro a identificá-las como realmente eram. Ou como eu as via, duvidando que a visão dos outros fosse mais correta, profunda ou corajosa.
O sol já alto da manhã as fizera abrir os olhos, investigando o ambiente. Creio que a brancura dos azulejos da cozinha as surpreendeu, pois em breve voltaram a encolher-se, alheias. Acostumadas como estavam aos vastos céus e campos percorridos dias inteiros preferiam buscar as coisas perdidas no calor dos corpos uma da outra. Prática, minha mãe informava: eram boas para comer baratas. E conscientes de sua liberdade interrompida, elas esperavam pela tarefa que lhes era destinada.

BATISMO

Logo caminhavam pela casa inteira, desvendando segredos. As crianças seguravam-nas, embalando-as como nenéns. Sem esperar, de repente, agente deparava com o olhar amarelo fixo duma -perturbando, interrogando, confundindo. A acusação muda fazia com que me investigasse ansioso, buscando erros. E punha-me em dia comigo mesmo, para me apresentar novamente a elas de banho tomado, unhas cortadas, rosto barbeado, cabelo penteado -na ilusão de que a limpeza externa arrancasse um aceno de aprovação. Mas eu sabia -embora, obstinado, recusasse a convicção até o último minuto -, sabia que seu olhar ultrapassava roupa, pele, carne, músculos e ossos para fixar-se num compartimento remoto, cujo conteúdo eu mesmo desconhecesse. Admitia-as envergonhado, mas hesitava em mostrar-me, criminoso negando o crime até a evidência dos fatos. Observava os olhares desviados dos adultos, e desviava também o meu, cirandando com eles na mesma negação.

As crianças disputavam a posse, é minha, não, é minha, manhê, a Claudia quer se adornar das corujas, mas elas passavam adiante, sabendo-se para sempre impossuídas, indecifráveis. Disputavam também a primazia de batizá-las, ignorando que o anonimato fazia parte de sua natureza. Nessa ignorância, chamaram nas Tutuca e Telecoteco. Pisquei um olho para elas, rindo da ingenuidade, tentando penetrar em sua intimidade, cada vez mais e mais negada. Ofélia e Hamlet, sugeriu um leitor óbvio de Shakespeare. Mas recusei-os ainda. Secretamente, reivindicava para mim seu batismo e posse, investigava almanaques em busca do nome que melhor assentasse. Chamá-las de alguma coisa seria dar um passo no caminho de seu conhecimento, como se sutilmente as fosse amoldando à minha maneira de desejá-las. Finalmente achei. Eram nomes de criaturas estranhas, indecifráveis como elas, já perdidas no tempo, misteriosas até hoje. Rasputin e Cassandra. Calei a descoberta, ocultei o batizado, apropriando-me cada vez mais de sua natureza, embora inconscientemente soubesse da inutilidade de tudo. Rasputin era menor, mais ágil, caminhava lento pelo parquê, os olhos sempre abertos, inesperadamente alcançando o encosto das cadeiras num vôo raso. Cassandra procurava os cantos escuros, os olhos constantemente semicerrados, uma perna encolhida, atitude de rosto-pendido-e-ar-pensativo.

A FOME

Passados os primeiros dias, principiaram a entrar na rotina. Vezenquando ainda me surpreendia a encará-las num duelo de mistérios. Eu, ocultando cuidadoso o meu, feroz na defesa, embora fosse sempre o primeiro a desviar os olhos. Recusei tocá-las. A maciez de seus corpos passava quente, impassível, de mão em mão, quando havia visitas. E só nessas ocasiões elas voltavam a espantar. Cumpriam honestamente sua tarefa de devorar baratas, mas recusavam qualquer outro alimento. O homem que as trouxera informara a minha mãe de seu orgulho: feridas em liberdade faziam greve de fome até a morte. Com a iminência de seu suicídio, planejamos soltá-las no campo.

Quase podia vê-las erguendo-se de leve num vôo contido, experimentando forças, as asas abrindo-se aos poucos numa subida lenta. Fundidas em azul, subindo, subindo.
As asas cortadas, porém, exigiam tempo para crescer novamente. Éramos obrigados a esperar. Desejei comunicá-las sua próxima libertação, mas a ineficiência de gestos e palavras isolou-me num mutismo para elas incompreensível. Eramos definitivamente incomunicáveis. Eu, gente; elas, bichos. Corujas, mesmo batizadas em segredo. Cassandra e Rasputin. Ofélia e Hamlet. Tutuca e Telecoteco. Qualquer nome não modificaria a sua natureza. Nunca. Corujas para sempre.
Mas a greve de fome persistia. Tão bem cumpriram seu serviço de comer baratas que em breve, creio, não restava mais nenhuma. Orgulhosas, passeavam seus estômagos vazios pela casa toda, a gente se olhando culpado, as mãos desertas de soluções. Não nos restava mais nada a fazer senão esperar. Por sua morte ou sua capitulação. Quem as visse, convictas em seu dês ilar faminto, poderia facilmente imaginá-las carregando cartazes de protesto. Contra quê? Contra quem? perguntávamos temerosos da resposta óbvia.

DESFECHO

Num começo de manhã ainda sem sol, igual a que as tinha trazido, Rasputin foi encontrado morto. O corpo pequeno e cinzento, já rígido, sobre os mosaicos frios da cozinha. Desviei os olhos sem dar nome ao sentimento que me invadia. Encolhida em seu canto, Cassandra diminuía cada vez mais. Olhos cerrados com força, eu tinha impressão que vezenquando seu corpo oscilava, talo de capim ao vento, quase quebrado.Até que morreu também. Digna e solitária, quem sabe virgem. Enterraram-na no fundo do quintal, uns jasmins jogados por cima da cova rasa, feita com as mãos.
Não fui ver a sepultura. Não sei se me assustava o mistério adensado ou para sempre desfeito.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

INGRESSOS A VENDA

Já podem comprar os ingressos:


Tem três bilheterias esse ano:
SHOPPING MULLER
SHOPPING PALLADIUM
PARK SHOPPING BARIGUI


E ainda no site


http://www.ingressorapido.com.br/Evento.aspx?ID=14045


Escolhe a data...
Vai correndo comprar!!
Inteira: R$ 12,00
Meia: R$ 6,00

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

MUSICA 2 - AMARGO


AMARGO - ZECA BALEIRO
O vinho podre que escorre das xícaras
O mel amargo, o meu coração
De onde quer que tudo venha
Tudo irá pra onde nada nunca se alcança
De onde quer que tudo venha
Tudo irá pra onde nada nunca se alcança
Tenho a memória de tudo que existe
Tudo que é triste e alegre ou não
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo
Ainda que tarde, agora que é tarde
Sempre é cedo, cedo
Ainda que tarde, agora que é noite
Eu sinto medo...

CASA HOFFMANN - LOCAL DE APRESENTAÇÃO FTC 2011



ENDEREÇO

Casa Hoffmann - Centro de Estudos do Movimento
Rua Claudino dos Santos, 58 - Largo da Ordem - Setor Histórico
(41) 3321-3228
danca@fcc.curitiba.pr.gov.br

A Casa Hoffmann é a sede do Centro de Estudos do Movimento, que se destina à exploração de novas estéticas do movimento, sendo um local de referência para artistas e outros profissionais com atuação nas áreas de dança, teatro, artes plásticas e educação. As atividades contam com a infraestrutura necessária ao desenvolvimento artístico, apoiadas em biblioteca, videoteca e cursos ministrados por artistas e pensadores renomados, com abordagem de temas variados, entre eles a crítica da dança, estética, filosofia e design cênico.

HISTÓRICO

Construída pela família Hoffmann, em 1890, a casa é símbolo da prosperidade de uma família de tecelões austríacos que se mudou para o Brasil no final do século XIX. O imóvel também constitui marco arquitetônico da transformação urbana que Curitiba viveu na virada para o século XX. Habitada pelos Hoffmann até 1974, a casa depois foi alugada e sofreu diversas adaptações, até ser destruída por um incêndio, em 1996. Apenas as paredes externas e a fachada foram mantidas. O imóvel, catalogado como unidade de interesse de preservação do município, foi totalmente restaurado e desde 23 de março de 2003 abriga o Centro de Estudos do Movimento.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Festival de Curitiba



Vem aí o Festival de Teatro de Curitiba 2011 em sua 20º edição.
De 29 de março a 10 de abril.

Ingressos a venda a partir do dia 15-02

AGUARDEM!!!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MUSICA 1 - Eu te amo

EU TE AMO
Chico Buarque de Holanda



Composição: Tom Jobim / Chico Buarque
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

ESSA MUSICA FAZ PARTE APENAS COMO MATERIAL DE PESQUISA DESSE ESPETACULO

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Filme 2 - Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

12 de janeiro - Casa do Paulo


Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

  título original:Eternal Sunshine of the Spotless Mind
• gênero:Comédia Romântica
• duração:01 hs 48 min
• ano de lançamento:2004
• site oficial:http://www.eternalsunshine.com/
• estúdio:Blue Ruin / This Is That Productions / Focus Features / Anonymous Content
• distribuidora:Focus Features / UIP / TriStar Pictures S.A.
• direção: Michel Gondry 
• roteiro:Charlie Kaufman, baseado em estória de Charlie Kaufman, Michel Gondry e Pierre Bismuth
• produção:Anthony Bregman e Steve Golin
• música:Jon Brion
• fotografia:Ellen Kuras
• direção de arte:David Stein
• figurino:Melissa Toth
• edição:Valdís Óskarsdóttir
• efeitos especiais:Custom Films Effects


elenco:
Jim Carrey (Joel Barish)
Kate Winslet (Clementine Kruczynski)
Gerry Robert Byrne (Condutor de trem)
Elijah Wood (Patrick)
Thomas Jay Ryan (Frank)
Mark Ruffalo (Stan)
Jane Adams (Carrie)
David Cross (Rob)
Kirsten Dunt (Mary)
Tom Wilkinson (Dr. Howard Mierzwiak)
Ryan Whitney (Joel - jovem)
Debbon Ayer (Mãe de Joel)
Deirdre O'Connell (Hollis)



Brilho eterno é um sofisticado filme de entretenimento, que, como todo bom filme, traz algo a mais além daquilo a que ele se presta. Não aprofunda nos temas interessantes que traz, mas isso não é esperado, por ser um filme de entretenimento; o importante, e surpreendente, é que ele os traz (e não apenas os joga de modo superficial com pitadas de moralismo norte-americano, como seria esperado).
Para que não se diga que só dei 10 ao filme porque esperava uma comédia romântica vagabunda e me assustei, o fato é que o filme passou na tv e, por ser um título conhecido, resolvi assistir, sem ter a menor idéia do que se tratava; não sabia nem que era com o Jim Carrey (o que, afinal, não significa nada, porque ele fez bons filmes, como O Show de Truman, e PÉSSIMOS filmes, como O Todo Poderoso e outros que não merecem nem citação).





De início já gostei da abordagem intimista que o filme traz, e que ele mantém constante durante toda a projeção. Jim Carrey está sério e introspectivo, destoante do personagem convencional (bobo alegre) que ele mantém em seus filmes, e do qual traz vestígios até em seus filmes sérios como O Show de Truman. 
Então gostei do modo como foi sendo construída a relação de Joel (o personagem de Jim Carrey) com Clementine (Kate Winslet) no trem(?), os jogos de frases, o modo como a afeição vai surgindo (“por que me apaixono por toda mulher que me dá um mínimo de atenção?”), ela gosta dele aparentemente à-toa. Depois o filme entra num emaranhado misterioso, a sequencia temporal se perde, o mundo palpável também, o telespectador não entende muito bem o que está acontecendo. Então se constrói uma cadeia de imagens e sons, convenções se quebram para montar uma trama perfeitamente elaborada e hipnótica. E o quebra-cabeça se completa no final. E tem-se um filme que entrerte, diverte, e também discute questões como ética profissional, as proporções catastróficas de interferência na vida que a ciência e a tecnologia têm tomado, enaltecimento do amor realista (que é cheio de conflitos e defeitos, mas talvez valha a pena) em sutil oposição ao amor idealizado (não há um “beijo apaixonado típico à la Hollywood”, nem na cena final, o que, confesso, num primeiro momento consternou até mesmo a mim), a perda de identidade (simbolizada na figura de Patrick, interpretado por Elijah Wood, que se aproveita da posse das lembranças de Joel para copiar/roubar a sua personalidade) e o fato metafórico de que apagar a memória não significa apagar o sentimento.


O ponto mais inovador do filme é que sua trama se passa, na maior parte do tempo, não no plano real, mas na mente de Joel, e é totalmente coerente com isso ao quebrar convenções de tempo e espaço que, afinal, não existem na mente humana. Somando-se isso à tentativa do personagem de escapar à própria mente, numa tentativa desesperada de salvar as próprias lembranças (que pôs em sacrifício num momento em que acreditou que, de algum modo, isso serviria de retaliação a Clementine, embora na prática ela não fosse nem saber disso), e tem-se um emaranhado extremamente atípico de ambientações, de épocas, de acontecimentos, que se intercalam e se sobrepõem. O resultado da quebra de tantas convenções são cenas fantásticas como o Jim Carrey na ponta do pé tentando alcançar a geladeira e ele e Clementine conversando normalmente em uma casa que está desabando.
O final do filme traz uma situação interessante. Joel e Clementine sabem que, se continuarem juntos, enfrentarão uma infinidade de problemas conjugais. E é como se simbolizasse todos os casais, pois isso é algo que, de algum modo, mesmo que se negue, todos sabem, ou ao menos sentem. Os dois irão até chegar a se odiar, não vão ser felizes pra sempre. Joel diz: “ok”. E Clementine ri. Ok.


Filme 1 - EU SEI QUE VOU TE AMAR


10 de janeiro de 2011 - Casa da Keila

Eu sei que vou te amar - Arnaldo Jabor
Um casal se reencontra depois da separação. O que dizer e, principalmente, sobre o que calar?
Tensa, cruel, apaixonada - a discussão da relação flutua entre mentiras gentis e verdades duras de ouvir, confissões e delírios. O abismo entre o que se diz e o que se sente pode ser superado?
Escrito a partir do filme homônimo, sucesso inesquecível de público e crítica, Eu sei que vou te amar é um diálogo de amor, com todas as artimanhas, os medos e a paixão com que hoje identificamos as DRs - as discussões da relação entre os casais, sempre diferentes, sempre as mesmas.

Trecho do livro:

"Eu sei que minha presença te fará nervosa, tuas mãos ficam úmidas, sei que você se arrumou melhor para me ver, sabe dos vestidos que eu gosto, botou uma calcinha sexy por via das dúvidas, eu sei que você sabe que eu sei de tudo que você era e que teu único tesouro é o que eu não sei mais... mulher... por isso, teu peito dispara e você vem vindo pela rua sem ar, e você vem e você chega e entra quebrando o realismo da sala, quando você entra muda tudo, a casa fica diferente, as cadeiras se movem, os vasos de    rosa voam no ar, as mesas rodam, rodam e eu começo a perder o controle da minha solidão;"

"...me arrumei toda para vir aqui ver você... penteei os cabelos negros que você ama, me pintei e então... tudo se movia na casa se acalmou, pego um táxi e penso: "Tenho um homem" ... Desde menina você já existia como uma nuvem no ar e subo confusa as escadas e entro em tua casa louca para procurar os vestígios das outras mulheres que te frequentam... e sei que você vai me receber sólido e filho-da-puta, e aos poucos vai me provar que você é o porto seguro e eu a galera enlouquecida, que eu sou a porra louca e você a maravilha, eu sei, canalha, mas eu suportarei a humilhação para poder ver teus olhos e pensar: "Meu homem, meu homem, meu homem perdido e sempre eternamente meu homem"... e eu sei que conseguirei te desagregar pouco a pouco e que no fim da noite você estará caído feito um joão-ninguem entre pedaços de kriptonita e eu ajeitarei o batom, o salto alto e partirei vingada, pensando: "Dorme, meu homem... dorme, my baby, that's my boy"



FICHA TÉCNICA
Diretor: Arnaldo Jabor
Elenco: Fernanda Torres, Thales Pan Chacon.
Produção: Helio Paula Ferraz, Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Fotografia: Lauro Excorel
Trilha Sonora: Christoph Gluck, Maurice Ravel e Giuseppe Verdi
Duração: 110 min.
Ano: 1986
País: Brasil
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: Embrafilme
Classificação: 16 anos

LINHAS

ELA esta aqui para ELE assim como ELE so existe para ELA. Se voce pudesse esquecer o que voce esqueceria? Uma pergunta latente no pensamento faz um relacionamento ruir. Amargo é a sensação humana de quando estamos à beira de um precipício onde a nossa própria existência tem o desejo de morte. Eles são dois mas se amarram em uma solidão que os deixa uno, vivendo a inércia de um desejo reprimido eternamente.